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Quanto de NeuroArquitetura há nos condomínios do Minha Casa, Minha Vida? - parte I


Por Andréa de Paiva


Este artigo tem como base a experiência da autora em visitas realizadas nos condomínios do Minha Casa, Minha Vida e CDHU no interior de São Paulo, Triângulo Mineiro e norte do Paraná, para projeto de consultoria realizado na FGV Projetos.


Você já se perguntou por que razão os condomínios de habitação popular são tão degradados? Basta alguns anos de vida e a maioria dos condomínios, seja do Minha Casa Minha Vida ou de outro programa, já apresentam aparência desgastada. Ainda mais dramático do que isso, você já conversou com alguns moradores dos condomínios? Em menos de um ano ocupando seus apartamentos grande parte deles já gostaria de poder sair.


 Condomínio em Batatais, São Paulo
Condomínio em Batatais, São Paulo

O Programa Minha Casa Minha Vida, lançado pelo Governo Federal em 2009, subsidia a aquisição de moradia própria para famílias de baixa renda. O programa é dividido em diferentes faixas de renda, sendo as mais baixas aquelas que recebem maior subsidio. Em alguns casos de desfavelamento, por exemplo, os moradores ganham o apartamento.


 Playground do Condomínio em Sorocaba, São Paulo
Playground do Condomínio em Sorocaba, São Paulo

Entrevistamos moradores de um condomínio de desfavelamento em Votorantim que, em menos de um ano, já estavam considerando voltar a ocupar barracos ao invés de ficar em seus apartamentos. Segundo os relatos, enquanto a vida na comunidade tinha um senso de vizinhança e respeito, nos condomínios isso mudou radicalmente. Uso de drogas nas escadarias escuras, roubos de apartamentos, violência, sujeira, desrespeito e vandalismo passaram a fazer parte do dia a dia dos moradores.


Depois de muitas visitas e conversas, algumas conclusões podem ser tiradas a partir de alguns dos princípios básicos da NeuroArquitetura. O projeto dos condomínios para população de baixa renda, de forma geral, é feito por arquitetos e outros profissionais que não moram e nem moraram nesses condomínios de habitação popular. Por outro lado, já sabemos que, muito embora nossos cérebros sigam alguns padrões de comportamento pré-programados, nós ainda assim sofremos influências, tanto da nossa genética, como das nossas experiências de vida. Ou seja, nossa cultura e vivências particulares estão o tempo todo gerando transformações em nosso cérebro (neuroplasticidade) e, consequentemente, impactando nosso comportamento [1].


Sendo assim, na hora de projetar algo para alguém ou para um grupo, temos que procurar entender o mindset dessa ou dessas pessoas. Uma solução que foi bem-sucedida para um tipo de público não necessariamente vai funcionar para todos. Por isso é tão importante que arquitetos, dentre outros profissionais, desenvolvam habilidades relacionadas a ToM (Theory of Mind) e empatia [2]. É preciso saber se colocar no lugar do outro, procurar sentir o que o outro sente para criar produtos que atendam às necessidades de cada público alvo e não as nossas próprias.


Quem disse que um apartamento de pouco mais de 35m² satisfaz a necessidade de uma família? Quem disse que dois ou três quartos são suficientes? Quem disse que um prédio de concreto, com cores neutras e passagens estreitas vai estimular a colaboração entre vizinhos?


Enquanto a arquitetura for pensada apenas sob a ótica econômica e da produção industrial em larga escala, ela estará perdendo seu caráter humano. Uma arquitetura desumana não gera identificação, apego nem pertencimento, elementos essenciais para a qualidade de vida habitacional. Uma arquitetura assim, desumana, apenas estimula comportamentos igualmente desumanos [3]. Uma coisa leva à outra e, enquanto esse ciclo não for interrompido, a qualidade de vida dos moradores continuará sofrendo consequências graves como as que testemunhamos naqueles conjuntos populares.

A relação entre NeuroArquitetura e habitação popular é bastante ampla e não se esgota no que discutimos até aqui. Por isso, em breve voltaremos a analisar outras questões relacionadas ao tema e que podem ajudar os arquitetos a enfrentarem esse desafio!


Veja a Parte II deste artigo aqui!


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Referências:



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