Por Andréa de Paiva e Fabio Menezes
Pode parecer uma pergunta óbvia, mas ela levanta questões bastante relevantes: para quem trabalham os arquitetos e designers? Devemos sempre ter em mente que são eles que projetam espaços onde as pessoas vão morar, trabalhar, estudar e interagir socialmente. Mas a quem eles devem ouvir? Será que as demandas do cliente estão sempre alinhadas com as necessidades dos usuários do espaço a ser projetado? Como podemos pensar o papel da ética nisso tudo?
A NeuroArquitetura é uma ciência que lida com emoções e comportamentos humanos, que muitas vezes estão além da percepção consciente. As características do espaço construído podem ser organizadas de modo a estimular determinados comportamentos nos usuários daquele ambiente, sem que tais indivíduos percebam as alterações de comportamento ou as características que os levaram a se comportar de tal maneira. Nesse sentido, ao se falar de NeuroArquitetura, é fundamental que sejam discutidos também princípios éticos.
Ao projetar um novo espaço, nem sempre o cliente que solicita o projeto é o usuário final. Por exemplo as escolas, que são frequentadas principalmente por estudantes e professores e não necessariamente pelo seu dono legal. Estes casos são, em geral, os que mais requerem atenção por parte dos arquitetos. Muitas vezes podem haver interesses conflitantes aí. As intenções do cliente que contrata o projeto podem estar relacionadas a ganhos que ele poderá ter ao provocar determinados tipos de comportamentos nos usuários do seu espaço. Porém, tais comportamentos podem não estar necessariamente alinhados com os objetivos dos usuários e, em casos mais extremos, eles podem impactar negativamente na qualidade de vida daquelas pessoas.
Essa é uma situação pela qual os arquitetos já passavam antes da NeuroArquitetura: o dilema entre projetar para seus clientes ou para os usuários finais, ainda mais quando estes têm interesses conflitantes [1]. Mas com a NeuroArquitetura essa situação fica ainda mais complicada. O espaço pode ser usado para estimular comportamentos nas pessoas de forma inconsciente, ou seja, sem elas perceberem que o espaço as está influenciando. É por essa razão que princípios éticos devem sempre servir como base da NeuroArquitetura.
É fundamental que, na aplicação da neuroarquitetura, a melhora na qualidade de vida dos usuários finais do espaço projetado seja sempre levada em consideração. Um projeto mal planejado ou mal executado pode ter diversas consequências, impactando diretamente no bem estar, na saúde e nos relacionamentos das pessoas [2]. Para evitar tais riscos, é importante levar em consideração que ambiente é aquele, qual sua função, quem ocupa e por quanto tempo. Ou seja, o arquiteto deve se questionar sobre quem serão as pessoas afetadas pelo seu projeto e quais impactos ele deve gerar na qualidade de vida delas.
Mas ao final das contas, para quem trabalham os arquitetos e designers? O profissional que busque uma atuação ética deve levar em consideração não apenas as demandas do cliente (que deve sempre ser orientado sobre tais princípios éticos), mas das pessoas que frequentarão o espaço a ser projetado. Para isso, é fundamental que, para cada caso, haja um estudo aprofundado que englobe as diferentes variáveis em jogo, tais como o cliente, a função dos espaços, as pessoas que os frequentarão, o tempo de ocupação e as tarefas a serem executadas em cada ambiente. O grande desafio dos arquitetos e designers é fazer o uso da neurociência aplicada à arquitetura de forma ética, visando sempre o bem estar físico e psicológico dos usuários dos seus espaços.
Nosso autor convidado, Fabio Menezes dos Anjos, é psicanalista, mestre em psicologia clínica pela USP, participou das formações clínicas do Forum do Campo Lacaniano, atende em consultório há 8 anos e já trabalhou também no contexto de projetos sociais, dependência química, esporte, entre outros. Pesquisa principalmente nas áreas de Esporte, Sociedade e discursos.
Referências:
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