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Cura Através de Narrativas Espaciais: neuroarquitetura e experiência do luto

Texto de Andréa de Paiva, MA

Projeto por Crisa Santos (@crisasantos.arquitetas ) | Memorial A Presença, Pinhais, Brazil


Curar o luto é uma jornada profundamente pessoal e multifacetada, que varia muito de pessoa para pessoa. O ambiente físico pode desempenhar um papel crucial em ajudar os indivíduos a lidar com suas emoções e encontrar maneiras de enfrentar a dor, passos essenciais no processo de cura. O memorial A Presença, localizado em um cemitério na Grande Curitiba, Pinhais, Brasil, foi projetado especificamente para apoiar essa jornada de cura.


Project by Crisa Santos | Memorial A Presença, Pinhais, Brazil
Project by Crisa Santos | Memorial A Presença, Pinhais, Brazil

A Presença é vivenciada em duas partes. Ao longo do caminho que leva ao memorial, com seu design orgânico, caminhamos e encontramos figuras que simbolizam situações cotidianas, permitindo-nos construir — ou revisitar — nossas próprias narrativas através da ressonância com o ambiente, uma "conexão corporal-sentida entre nossos sentimentos e nosso entorno" (Canepa, 2023). Em seguida, o Memorial se ergue em aço como um grande muro poético, emergindo da terra e carregando um senso de pertencimento e de continuidade nas jornadas da vida. As duas partes entrelaçam presença e ausência, oferecendo fortes "affordances" emocionais, especialmente para aqueles que estão vivenciando o luto. Enquanto, em uma parte, as figuras estão presentes ao longo do caminho, na outra, elas são vazios, mas permanecem presentes através das linhas marcadas nesse grande muro. Ambas são complementadas pelos desenhos de sombra que se formam no chão à medida que a luz do sol incide.


Cada imagem ao longo do caminho ou do muro ressoa com nossas narrativas pessoais, promovendo conexões emocionais com nossas memórias, amplificadas pelo silêncio e pela amplitude do entorno. A conexão profunda com a natureza circundante também apoia o processo de cura, traçando analogias com os ciclos naturais — dia e noite, estações, vida e morte — além de evocar respostas fisiológicas positivas, como a redução do estresse (Ewert & Chang, 2018), a restauração da atenção (Kimura et al., 2021) e o potencial de facilitar a cura em si (Ulrich, 1984).


Detail of the wall: girl watering flowers
Project by Crisa Santos | Memorial A Presença, Pinhais, Brazil
Memorial detail: image of a family
Project by Crisa Santos | Memorial A Presença, Pinhais, Brazil

A riqueza multissensorial da experiência também aumenta a atenção para nossas experiências corporais e afetivas, ancorando-nos em nossos corpos: o caminho de seixos que leva ao memorial e a grama ao redor contrastam com a textura e a temperatura do muro de aço. Esse foco interno nas sensações corporais ajuda a promover a introspecção, que desempenha um papel crucial no processo de cura do luto. A introspecção envolve olhar para dentro para compreender as próprias emoções, pensamentos e reações à perda. Através desse processo, os indivíduos podem obter insights mais profundos sobre seu luto, facilitando sua jornada de cura.


O balanço em um dos vazios no muro proporciona uma experiência mais ativa e corporal, oferecendo uma oportunidade diversificada de movimento além de apenas caminhar ao longo do caminho. Ele convida os visitantes a se aproximarem do muro e se balançarem, evocando memórias corporais e emocionais da brincadeira infantil e de ser embalado. Além disso, o formato ondulado no topo do muro simboliza movimento e fluidez, conectando-se com as ideias de transição, impermanência e evanescência.


The swing in one of the voids in the wall
Project by Crisa Santos | Memorial A Presença, Pinhais, Brazil

Teorias e experimentos em neuroestética destacam a interação entre o tríade neural-sensório-motora, sistemas de avaliação emocional e de conhecimento de significados, envolvidos com nossa experiência estética de arte e espaços (Chatterjee & Vartanian, 2014). As pistas sutis no memorial facilitam essa rica interação, aprimorando nossa experiência estética, comunicando e possibilitando a conexão com emoções que muitas vezes são difíceis de expressar com palavras. A arte e a arquitetura evocam respostas empáticas ao engajar os circuitos emocionais, refletindo os sentimentos expressos nos espaços e nas obras de arte (Freedberg & Gallese, 2007; Gallese et al., 2015). Essa experiência nos permite acessar camadas mais profundas de nossa consciência e paisagem emocional, promovendo um senso profundo de conexão e compreensão que transcende a comunicação verbal.


The wall and its voids
Project by Crisa Santos | Memorial A Presença, Pinhais, Brazil

A jornada pessoal de cura do luto abrange processos mentais, emocionais e corporais que podem ser nutridos pelo ambiente físico. A neuroarquitetura oferece insights valiosos para arquitetos, aprofundando suas intuições e poéticas. Isso lhes permite criar espaços que ressoam profundamente com as experiências únicas e profundas de cada indivíduo ao trilhar o caminho da cura do luto.


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Sobre a autora do projeto: CRISA SANTOS


Com uma arquitetura alicerçada Crisa Santos se dedica desde a sua formação (UNESP Arquitetura, urbanismo e paisagismo) a compreender o processo criativo com a responsabilidade de conectar o espaço ao seu usuário de forma a proporcionar uma nova vivência em momentos de luto. Pós-graduada em Administração pela Faculdade Getúlio Vargas, em Arquitetura Paramétrica pelas Faculdade Belas Artes, pós graduada em neurociência pela PUC e neuroarquitetura pelo IPOG, tece uma rede de conhecimentos para embasar os seus projetos e compreender a complexidade de se pensar uma arquitetura universal e única,

Como arquiteta e palestrante é atuante no setor funerário na busca da ressignificação do luto, na transformação de espaços para os enlutados e criação de memoriais, estudando e se aprimorando de como o ambiente construído influencia o cérebro, buscando colocar as pessoas sempre como personagens principais em suas obras.


Contatos:

Crisasantos.com.br

Instagram: @Crisasantos.arquitetas

+55 11 98283-9853




References:


Arbib, M. A., Canepa, E., Condia, B., De Matteis,F., Griffero, T., Hart, R. L., Hewitt, M.


A., Suchi, R., Wynne, M. (2023) Atmosphere(s) for Architects: Between


Phenomenology and Cognition. NPP eBooks. 51.


Chatterjee, A., & Vartanian, O. (2014). Neuroaesthetics. Trends in cognitive sciences, 18(7), 370–375. https://doi.org/10.1016/j.tics.2014.03.003


Ewert, A., & Chang, Y. (2018). Levels of Nature and Stress Response. Behavioral sciences (Basel, Switzerland), 8(5), 49. https://doi.org/10.3390/bs8050049


Freedberg, D., & Gallese, V. (2007). Motion, emotion and empathy in esthetic experience. Trends in cognitive sciences, 11(5), 197–203. https://doi.org/10.1016/j.tics.2007.02.003


Gallese, V., Pallasmaa, J., Mallgrave, H., Robinson, S. (2015) Architecture and Empathy. A Tapio Wirkkala-Rut Bryk Design Reader, ISBN: 978-0-692-53919-4


Kimura, T., Yamada, T., Hirokawa, Y., & Shinohara, K. (2021). Brief and Indirect Exposure to Natural Environment Restores the Directed Attention for the Task. Frontiers in psychology, 12, 619347. https://doi.org/10.3389/fpsyg.2021.619347


Ulrich, R. S. (1984). View through a window may influence recovery from surgery. Science, 224(4647), 420–421. https://doi.org/10.1126/science.6143402\

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