Conceituando a Teoria de Einfühlung
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Conceituando a Teoria de Einfühlung

Autores convidados: Lorí Crízel, Caroline Ogura e Maurício Dallastra


Visto que nosso estudo é voltado para a NeuroArquitetura, podemos afirmar que buscamos compreender melhor a relação entre o sistema nervoso e como ele absorve e traduz as informações de um projeto arquitetônico. Nesse sentido, uma prática recorrente dentro da neurociência aplicada a arquitetura é nos colocarmos no lugar do outro para melhor entender o contexto e extrair experiências e cenários que permitam aprimorar o exercício de nossa profissão, ou seja, praticar a empatia. Diante disso, percebe-se várias proposições de estudo da empatia, bem como técnicas práticas para aplicação em projetos, visando um resultado mais humanizado.


Einfühlung
Imagem de Gerd Altmann por Pixabay


Uma vertente que articula empatia com a prática projetual dentro da arquitetura é a Teoria de Einfühlung, a qual primeiramente vamos contextualizar com esse excerto do livro Saber Ver a Arquitetura, de Bruno Zevi:


De diferente valor, aliás fundamental na história das interpretações arquitetônicas, é a teoria de Einfühlung, segundo a qual a emoção artística consiste na identificação do espectador com as formas, e por isso no fato de a arquitetura transcrever os estados de espírito nas formas da construção, humanizando-as e animando-as. Olhando as formas arquitetônicas, nós vibramos em simpatia simbólica com elas, porque suscitam reações em nosso corpo e em nosso espírito. Partindo dessas considerações, a simpatia simbolista tentou reduzir a arte a uma ciência: um edifício não seria mais do que uma máquina apta a produzir certas reações humanas predeterminadas (ZEVI, 1996, p. 161).


Naturalmente, por manifestar um viés estético, a arquitetura pode ser interpretada por diferentes perspectivas. Bruno Zevi (1996) lista como área de interpretações: política, filosófico-religiosas, científica, econômico-social, materialistas, técnicas, fisiopsicológicas, formalista e espacial. A teoria de Einfühlung, também conhecida como teoria da empatia, é classificada por Zevi como uma interpretação fisiopsicológica e, ao buscar referências sobre o tema, percebe-se que as movimentações em torno do assunto acontecem em um núcleo comum de filósofos e pensadores, principalmente na Alemanha, em meados do século XIX.


Esse termo descreve empatia como a faculdade que nos é dada para que possamos compreender e emocionalmente estabelecer algum relacionamento entre seres humanos e, posteriormente, passou a ser empregado para descrever a relação entre homem e natureza. Essa relação envolve três componentes/campos: o sensorial, o cognitivo e, por consequência, o comportamental.


Grandes referências e contribuições enquanto técnicas projetuais para que tenhamos ferramentais na NeuroArquitetura advém dos estudos derivados dos teóricos de Einfühlung (Vischer, Lipps, Wölfflin e Göller). Foi por meio dos avanços conquistados por essa corrente teórica que conseguiu-se trazer para dentro do campo projetual ferramentas que trabalhassem o estímulo aos campos cognitivos, sensoriais e comportamentais dos usuários dos espaços.


Teoria de Einfühlung no contexto projetual: Linhas construtivas


É importante destacar que o termo alemão, desenvolvido no âmbito da estética para entender o efeito emocional das formas - especialmente, mas não somente - formas espaciais (GALLAND-SZYMKOWIAK, 2017). Mallgrave (2009) descreve que Friedrich Theodor Vischer, considerado um dos primeiros teóricos de Einfühlung, entendia a arquitetura como uma “arte simbólica” e que, por meio dela, o papel do arquiteto é imprimir vivacidade com recursos lineares e planos suspensos. Resumidamente, seu conceito aponta que fatores externos influenciam de maneira particular e, involuntariamente, nosso estado emocional traduz e interpreta a imagem simbólica que o cérebro recebeu. De um modo mais objetivo, Vischer observa que linhas verticais trazem a sensação de elevar o espírito humano, linhas horizontais o ampliam e linhas curvas se movimentam com mais energia do que linhas retas. Seu sucessor, Robert Vischer, aprimora a proposição ao afirmar que uma linha horizontal pode parecer agradável porque está em conformidade com a estrutura do nosso aparelho visual, em contrapartida, uma linha diagonal não traria uma sensação tão aprazível porque requer um movimento menos usual do globo ocular. O similar acontece entre uma linha em forma de arco e outra em formato irregular. Uma forma que apresenta regularidade é mais interessante porque é similar à nossa regularidade corporal.


O estudo das emoções que podemos traduzir das linhas e formas (linhas retas verticais e horizontais, linhas curvas, a helicoidal, o círculo, a elipse, o cubo e a esfera serão abordados no livro “NEUROARCH® - Uma proposição entre NeuroArquitetura e Teoria de Einfühlung aplicada às práticas projetuais”. O livro será lançado em breve e é de autoria de Lorí Crízel com participação de Caroline Ogura e Maurício Dallastra em um capítulo que conceitua a teoria.

Teoria de Einfühlung no contexto projetual: Clássicos e Barrocos


Ao abordar os termos “clássico” e “barroco” no contexto projetual, deve-se evidenciar que as nomenclaturas clássico e barroco continuam designando linguagens estilísticas, estéticas e de composição arquitetônica enquanto um estilo aplicado em dado período. Tais referenciais não se anulam ou descaracterizam-se. Aplica-se esses mesmos vocábulos enquanto técnicas projetuais aplicadas no universo da arquitetura, ora contemplada por nesse novo viés projetual, NeuroArquitetura.


Nesse sentido, pode-se articular a obra de Heinrich Wölflin - teórico de Einfühlung e um dos mais influentes historiadores da arte do século XX - de título Conceitos fundamentais de História da Arte (2006) com o aspecto existencial humano investigado pelo filósofo alemão Friedrich Nietzsche em Origem da Tragédia e o Espírito da Música. Filosofia versus história da arte versus homem frente sua interpretação de mundo, Nietzsche traz ainda as nomenclaturas “dionisíaco” e “apolínea” para compor parte da caracterização das interpretações de mundo que o ser humano desenvolve ao longo de sua existência.


Quando essas ponderações passam a ser traduzidas para o universo da arquitetura, nota-se que “dionisíaco” estabelece uma relação direta com a “pureza, limpeza e objetividade” tipicamente relacionada a uma linguagem estilística mais classicista, o dito clássico. Em similar analogia, “apolínea” traz uma relação mais direcionada ao “movimento, informação e adorno” muito encontrada também na linguagem estilística barroca, o dito barroco.


A teoria de Einfühlung, se aplicada à NeuroArquitetura, nos demonstra que essas classificações são tendenciais, ou seja, não temos ocorrência de alguém 100% clássico ou barroco. O que tratamos aqui é um perfil de tendência experiencial que cada um de nós desenvolve com o universo que nos cerca. Uma pessoa pode ser tendencialmente clássica, mas em alguns momentos ou circunstâncias desenvolver leituras barrocas. O inverso também pode acontecer: alguém tendencialmente barroco, pode, dependendo de inúmeros fatores, adotar uma postura clássica.


Importante agora pontuar que pessoas com perfil tendencialmente clássico dialogam com o mundo exterior de forma direta, sucinta e objetiva. Apresentam uma personalidade focada na praticidade, na agilidade e no imediato. Quando inseridas em um ambiente, fazem uma leitura estratégica, sem se atentar a detalhes. Uma leitura espacial rápida é o suficiente para captar o que aquele ambiente lhe oferece, de forma direta, sucinta e objetiva. A partir daí, define como irá se relacionar com essa espacialidade.


Em contrapartida, um perfil tendencialmente barroco se atrai pela diversidade de informações que o mundo externo pode oferecer em termos de experiência. Os ambientes que melhor se adequam aos barrocos são aqueles ricos em informação, em detalhes, pois sua percepção de mundo está voltada a reconhecer cada um deles. Uma vez traçada essa interpretação, o relacionamento com o espaço se estabelece.


A compreensão sobre clássicos e barrocos nos ajuda a perceber como as leituras de mundo são feitas e a forma como os espaços são mapeados. No entanto, o que vimos até aqui ainda não é completamente suficiente para nos responder de que maneira essas pessoas se apropriam das espacialidades. Logo, neurociência e arquitetura seguiram avançando nos estudos para buscar interpretar, por meio da compreensão do modo como os gêneros se relacionam com o meio, a maneira como os cognitivos masculino e feminino se relacionam, portanto, com espacialidades. E, claro, a teoria de Einfühlung auxilia sistematicamente para que se traga essas condicionantes para qualificar as experiências que desejamos atribuir a um projeto.

Considerações finais


Pensar os ambientes de forma integrativa, mesclando recursos como cores, formas e texturas a conceitos que permeiam a neurociência faz com que o usuário desfrute de uma experiência multissensorial em relação ao recinto em que está inserido, sendo este, portanto, um ofício essencial ao contexto social atual.


A partir da teoria de Einfühlung, a qual investe todo o edifício, passou-se a enxergar a relação estabelecida entre os seres como parte fundamental do processo arquitetônico, colocando-os como elementos norteadores dos projetos. Para compreender a teoria da empatia é preciso desenvolver um olhar menos tecnicista e mais humano sobre o processo criativo. Entender os estudos dessa vertente teórica nos leva a compreender quais mecanismos podem ser aplicados para desenvolver afinidades, promover a empatia entre indivíduos e entre os espaços que habitam e usufruem.


Portanto, Einfühlung refere-se a um conceito complexo, em alguns casos apresenta linha de abordagem ambígua, mas ao mesmo tempo, se revela fundamental para o período atual, visto que contribui para o desenvolvimento de maneiras de compreender os sentimentos e intenções de outras pessoas a partir de percepções e experiências individuais, deixando a objetividade de lado, tal qual manifestações artísticas e a arquitetura atual têm se fundamentado (NOWAK, 2011).


Esta temática vem sendo, ao longo dos últimos anos, o cerne das pesquisas desenvolvidas pelos autores, tendo como resultado a publicação do livro “NEUROARCH® - Uma proposição entre NeuroArquitetura e Teoria de Einfühlung aplicada às práticas projetuais”, o qual aborda de forma objetiva e prática os conceitos imbricados à empatia e entre a sensível, complexa e intrigante relação entre indivíduo e ambiente edificado.

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AUTORES:

Lorí Crízel é membro da Academy of Neuroscience for Architecture – ANFA | Autor de trabalho participante da Conferência Mundial da ANFA | Idealizador do selo NEUROARCH®: Neuroarquitetura, Neurodesign e Neuroiluminação | Coordenador de Treinamentos de Imersão NEUROARCH® em práticas projetuais de neuroarquitetura | Arquiteto e Urbanista graduado pela Universidade Católica/RS | Mestre em Conforto Ambiental pela UFRJ | Especialista em Neurociências e Comportamento Humano pela PUC/RS | Atuou como Professor Substituto e Assistente nos Cursos de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ e da Universidade Santa Úrsula/RJ | Membro do Comitê Especial Europeu de Pós-Graduação tendo atuado como Concept Designer em Inglaterra, Escócia, País de Gales e França | Atuou como Coordenador e Professor de Pós-Graduação em Arquitetura e como Presidente Setorial do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Paranaense/PR | Professor e Coordenador de Pós-Graduações nas áreas de Arquitetura, Neuroarquitetura, Design, Iluminação e BIM, assim como Coordenador dos Programas Internacionais IPOG Mundi do Instituto de Pós-Graduação e Graduação - IPOG | Detentor do Selo CREA/PR de Excelência em Projeto Arquitetônico | Certificações Internacionais de Design Thinking e Light Design pelo POLI.Design do Instituto Politécnico de Milão (Itália) | Atividades de imersão profissional/acadêmica nos escritórios de Norman Foster (Londres), Zaha Hadid (Londres), Christian de Portzamparc (Paris), BIG (Copenhagen), Effekt Architects (Copenhagen), Concrete Architects (Amsterdã), Aires Mateus (Lisboa), Hassell Studio (Singapura), AEDAS Architecture (Singapura), Architects 61 (Singapura), Design Link Architects (Singapura), Tandem Architects (Bangkok), DBALP Jam Factory (Bangkok) e X Architects (Dubai) | Atividades Institucionais junto ao POLI.Design do Instituto Politécnico de Milão (Itália), McGill University (Canadá) e Universidade do Porto (Portugal). E-mail: contato@loricrizel.arq.br | Instagram: @lori.crizel


Caroline Ogura é graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Paranaense (UNIPAR) - Campus Cascavel/PR. Participante do Concurso Ópera Prima 2011-2012 (Tema: Espaço Cultural Multissensorial). Trainee no escritório de arquitetura Crízel e Uren Arquitetos Associados (2008/2011). Gerente de projetos executivos no escritório de arquitetura Crízel e Uren Arquitetos Associados (2012/2013). Sócia proprietária do escritório de arquitetura Garcia e Ogura Arquitetura (2015/2019). Especializanda em Lighting Design pelo Instituto de Pós-Graduação (IPOG). Atualmente gerente das áreas de projeto, arte finalização e produção de conteúdo do escritório de arquitetura Lorí Crízel + Partners. Membro da Academy of Neuroscience for Architecture – ANFA (2020). Participante da conferência ANFA 2020 como autora de trabalho aprovado para apresentação. E-mail: carolineogura@gmail.com | Instagram: @carologura


Maurício Dallastra é arquiteto e urbanista graduado em 2013 pela Universidade Paranaense campus Cascavel/PR, cidade onde atuou como trainee no escritório Crízel e Uren Arquitetos Associados. Participou do Concurso Ópera Prima (2012-2013) com o trabalho de conclusão "Escola de Arquitetura para Cascavel - PR". Possui especialização em Iluminação e Design de Interiores, pelo IPOG e mestrado em Ambiente e Desenvolvimento pela Universidade do Vale do Taquari - UNIVATES. Atua como professor interino no curso de Engenharia Civil na Universidade do Estado de Mato Grosso - Campus Tangará da Serra desde 2014, além de atuar como professor na Universidade de Cuiabá, campus Tangará da Serra. É sócio proprietário do escritório ARQ3 Arquitetos Associados, onde atua como arquiteto nos segmentos de arquitetura, iluminação e design de interiores residencial, comercial e corporativo em Tangará da Serra e região. Membro da Academy of Neuroscience for Architecture – ANFA (2020). Participante da conferência ANFA 2020 como autor de trabalho aprovado para apresentação. E-mail: mauriciodallastra@hotmail.com | Instagram: @mauriciodallastra

REFERÊNCIAS:

GALLAND-SZYMKOWIAK, M. Formes, forces, Einfühlung. L’esthétique de l’espace de Theodor Lipps. Revue de Metaphysique et de Morale, 2017.

MALLGRAVE, H. F. The Architect’s Brain: Neuroscience, Creativity, and Architecture, 2010.

NOWAK, Magdalena. The complicated history of Einfühlung. Argument: vol. 1. 2011.

PALLASMAA, J.; MALLGRAVE, H. F.; ARBIB, M. Architecture & Neuroscience, 2013.

WÖLFFLIN, H. Conceitos Fundamentais da História da Arte. São Paulo: Martins Fontes, 2006.

ZEVI, Bruno. Saber Ver a Arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 1996.


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